Já sonhei muitas vezes com amplidões marítimas, então aquele sonho não foi exatamente algo inusitado. Para onde quer que se olhasse, só se via mar: água tomando tudo, ruas e casas, igrejas e cemitérios, puteiros e tribunais. Um tsunami intenso, resoluto- e limpo. As águas eram de um azul-leitoso claro, suaves, como só águas de sonho podem ser. E tampouco eram águas de fúria. Ao contrário, cobriam a Humanidade com um quê de toque materno, como um cobertor cálido e amoroso.
Vocês já tiveram sonhos assim? Para onde quer que se volte os olhos, a imensidão das águas. A vastidão azul-leitosa, tão ampla que -paradoxo!- dá claustrofobia. O mundo como o conhecemos afogado, Atlântida redescoberta, o Rio como cidade submersa, em "Futuros Amantes" de Chico Buarque. O líquido superando o sólido. A água vence o concreto.
Estar cercado de águas, como uma ilha humana, não é uma sensação ruim. Os analistas que interpretem o simbolismo. A vida veio das águas, a evolução darwiniana nos mostrou. A expressão "oceano primordial" -não é um termo meu- está ecoando em minha cabeça nesse exato momento e talvez seja isso mesmo, a nostalgia atávica do oceano primordial.
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