This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

sábado, 25 de junho de 2011

Amor de bordel

4 comentários:
Era o baixo meretrício, mas não que preferisse. O que o bolso podia, o que era mais perto. Chegar lá era perigoso, por meio de tantas vielas escuras, mas o baixo meretrício em si estava sempre animado e iluminado, um verdadeiro porto seguro: os cafetões não permitem balbúrdia em sua área. Uma vez lá era um gigantesco supermercado de fêmeas, todos os tipos, cores e padrões, ao cliente bastando escolher, mas os clientes também eram mercadoria, deixando lá semanalmente seus suados trocados de proletário. Elas por elas, todos satisfeitos.

Ela -a moça que ele escolheu- parecia voluptosa. Femme fatale da madrugada decadente. Mas uma vez acertado o preço, uma vez dentro do quarto, uma vez tirando a roupa, era apenas uma menina. 18 anos. Pediu para continuar de sutiã: estava amamentando, não queria espirrar leite no cliente. Criança gerando outra, o bebê com a avó enquanto a mãe-menina cumpria sua jornada noturna. O cliente aceitou. Estava pagando, podia exigir o que quisesse, mas deu de ombros. Então ele percebeu que ela tinha o corpo manchado, manchas desbotadas, tratáveis com qualquer pomada barata. Não ligou para isso, não era homem de ninharias. Se não refugou com a possibilidade de receber uma esguichada de leite, não iria ligar para uma pele desbotada.

Daí ela o abraçou passionalmente. Como uma namorada apaixonada. "Sua voz é linda", ela disse, "fala no meu ouvido". Ele tinha voz bonita mesmo. Achou graça e sussurrou qualquer besteira no ouvido dela. Risinhos, mais abraços. Beijo na boca seria muito: putas não beijam. Ela respeitava a regra, mas o abraçava, o apalpava como a um namorado.

Mas os hormônios apressavam as coisas. Ele não queria namoradas, veio por um motivo, e pagara por isso. Pouco, é verdade -afinal era o baixo meretrício- mas pagara. Nas cabines ao lado já começavam os gemidos inconfundíveis. Cabines, vejam bem, não quartos- era o baixo meretrício, afinal de contas.

E ela era profissional. Voltou a ser voluptuosa como lá fora, a força uterina redescoberta. E ele tomou posse do que lhe pertencia. Ao final esvaziou os bolsos e ela ainda pediu um "agrado", ele nunca soube dizer não, ia fazer falta ao longo da semana, mas ele nunca soube dizer não. Todos mercadorias, eu avisei.

No mês seguinte, com o salário de operário recomposto, voltou lá: mas apenas por ela, apenas por causa dela. Deu dezenas de voltas, mas não a encontrou em lugar nenhum. Pensou em perguntar por ela, mas teve vergonha. Qual era mesmo o nome daquele filme? "Uma linda mulher", que coisa cafona. Sentiu-se um Richard Gere piorado e voltou para casa. Ela também não era lá nenhuma Julia Roberts.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...