This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

terça-feira, 25 de setembro de 2012

De suicidas insuspeitos

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(escrito num bar da Rua do Carmo, centro do Rio)

Será que essas pessoas que se suicidam
para espanto da família, que diz
"- mas ele estava tão feliz!
- mas ele tinha tantos planos!
- não, ele jamais..."

não, ele jamais faria isso
diz a família estupefata

mas será que o tal feliz
tão cheio de planos

no fundo já não acalentava
a ideia
e tudo -ser feliz e cheio de planos-
nada mais que fachada?

para espanto da família
estupefata.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Se há pérolas nessa história

Um comentário:
Uma coisa que acho engraçada, quando penso em Mirna, é que talvez nunca venha a saber o quanto foi importante. Não culpa minha, em mostrar, mas dela, em perceber. Muito amor dado em vão para quem não merece. Então no instante da revolta eu me lembro do bíblico "não jogar pérolas aos porcos" e a heresia, contra o mito cristão e contra Mirna, me satisfaz por um tempo. Até que a maldita música volte, os malditos lugares ressurjam, e as recordações abram caminho novamente. E a heresia dá lugar à contrição.

O amor dado a Mirna não foi pérola aos porcos. "Eu nunca, nunca mesmo, queria te fazer infeliz", ela disse, "se for para isso prefiro colocar a cabeça no lugar". E quem diz algo assim possui uma nobreza insuspeita, ao menos que seja fingimento. Mas isso tudo é indiferente. Afinal, não há que ter revolta: ao amor basta amar. Ser correspondido é mero detalhe. E pérolas valerem muito, e porcos pouco, são apenas juízos de valor, preconceitos repetidos desde a Bíblia. Se há pérolas nessa história, eram os dentes de Mirna ao sorrir.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

E eu, que não acredito em Deus

2 comentários:
Jesus Cristo, nos Evangelhos, repete reiteradamente ser o Filho do Homem. Isso desconcerta os judeus, aflitos com a heresia. Em dada passagem diz ser mais antigo que Abraão e, contam as Escrituras, escapou por pouco de ser apedrejado. Rama, no Ramayana, é outro papo. Apesar de ser Vishnu em pessoa, ignorava sua própria natureza divina. É preciso, no final do épico, que os demais deuses lhe lembrem: és Narayana, graças a quem o mundo existe. "Não", retruca Rama, "sou apenas um mortal da linhagem de Dasárata". Um deus modesto. Mais que o Cristo que, como dito, lembrava sempre aos conterrâneos de sua origem celeste.

Deus caminhando entre nós, cônscio ou não disso. Em todo caso em carne e osso (mesmo que de uma matéria diferente), andando, comendo e dormindo. Cuidado em quem você esbarra no cotidiano: pode ser o Todo-poderoso encarnado.

E eu, que não acredito em Deus, acho justamente isto bonito: pensar que o vizinho do lado pode ter um deus em si, pensar que cada homem ou mulher ao nosso redor pode ser, sem que saibamos, uma divindade oculta. E assim, como sagrado, tratar o semelhante.

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