This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Como que congelada num cristal de sonho

Um comentário:
Foi um dia em que chovia bastante e o ar-condicionado nublava a janela. A cidade, através do vidro embaçado, parecia como que congelada num cristal de sonho. Formas vagas e indistintas lá fora, movendo-se devagar como em fluido viscoso. O cristal de sonho é inquebrável e os homens, absortos, deslizavam lentos de preocupação a preocupação.

Assim transcorria a vida dos terráqueos, vista pela janela embaçada de chuva e ar-condicionado: uma tela leitosa e grudenta como teia, úmida e diáfana, na qual os dramas e comédias se desenrolam. Quanto a mim, quem me visse a partir da rua teria a mesma impressão. Mesmo porque dentro ou fora é questão de perspectiva e nada escapa ao fluido viscoso.

Deve ser assim na superfícia de Júpiter, pensei eu, ou de Urano ou de qualquer outro planeta gasoso. Seus habitantes -caso os tenham, e quem sabe se não os têm- marchando pelo fluido leitoso, pés delicados tocando nuvens, lentos, bem lentos, através do vapor primordial. Caldo de gás que a tudo envolve, enquanto também deslizam, lentos, de preocupação -sim, também eles, os habitantes de Júpiter e de Urano- a preocupação.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Fingir ouvir com o pensamento à distância

2 comentários:
Leandro falava, no seu jeito típico, bravatas e causos, com voz já confusa da cerveja e cachaça que gostava de beber alternadas. Mas como dar atenção, se eu -também repleto de cerveja e cachaça- tinha pensamento apenas em Alice? Alice que há meses não ligava, não aparecia, Alice sem sinal de vida. E o coração apertava em saudade mas Leandro, falador contumaz, pouca solidariedade tinha para com o sentimento alheio.

E o bar já descendo as portas, e em breve o proprietário vindo nos perguntar se queremos a saideira, não sem antes trocar nossos copos de vidro por copos de plástico descartáveis. Leandro continuando suas histórias, matraca infatigável, e o pensamento somente lá em Alice. O celular arde no bolso- a vontade de discar os números, de acordá-la naquela madrugada quente, só para ouvir um "alô" e -se faltar coragem- desligar em seguida. A vontade da voz de Alice enquanto o proprietário pergunta se queremos a saideira e troca nossos copos de vidro por copos de plástico descartáveis.

Leandro, que diabos, não percebe que não dou a mínima para o que está falando? Mal te ouço- estou longe, na galáxia Alice (essa que os astrônomos ainda estão por inventar). Vá lá, Leandro, que diabos, estou aqui, continue falando: sou todo ouvidos.

E prosseguimos naquele outro bar, ainda aberto e com cerveja também gelada.

Fingir ouvir com o pensamento à distância não é arte para poucos. Ao contrário, é até trivial. Basta um pouquinho de treinamento, basta um amigo que não para de falar, basta um longo tempo sem falar com Alice.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

E o cigarro entre beijos

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Quando Bruna veio o caos já havia passado. Mirna deixara terra arrasada, mas é da vida que a primavera volte sempre. Foi uma estadia no inferno, como a de Rimbaud, mas já escavei de volta à superfície, e eis o sol forte aqui de novo, passada a hecatombe mirniana, e eis Bruna e eu tomando um suco.

Mirna foi loucura, ela concorda, ela de tanta força sob a aparência frágil. A figura pequena de Bruna não faz jus a seu temperamento, a seu vigor. Além da força, carrega insuspeitamente uma sabedoria profunda. E com ouvidos sábios ouvia meu rosário de lamentações.

Mas há que lamentar? A tragédia mirniana pra trás, eu e Bruna ouvindo jazz na praça. Já noite já lua. E é tão natural estar com Bruna, que do sorriso para o toque é um pulo, uma coisa leva a outra e eis o beijo. E o jazz na praça e a cerveja, e o cigarro entre beijos. E os prédios do centro da cidade, e o meio-fio para mais cerveja no pé-sujo. Jazz e Bruna, uma coisa leva a outra. E eis-nos no quarto.

Foi mesmo muita cerveja e hoje já não me recordo muito. Mas da penumbra daquela noite sempre me lembrarei das pernas de Bruna me apertando fortes, enquanto eu gozava, fundo, nela.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Haikai do retorno

Um comentário:
Dedicado a João Nicoli,
pelo imerecido elogio no último post

Ressurreição?
Por que não?
Findou o ano.

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