This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

sábado, 29 de junho de 2013

E era tudo muito cinza

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Lendo
The Doors
e ouvindo
Bukowski

digo, o contrário

foi quando percebi
no ônibus

que as nuvens pareciam como
emplastadas no céu

e era tudo muito cinza
e um pouco
sujo.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Quanto mais você sente mais você sofre

Um comentário:
Quanto mais você sente
mais você sofre.

Repare que os insensíveis
são os brutos, os imbecis,
burros e loucos
mancos de espírito
idiotas, obtusos, limitados, estreitos
atrasados, reduzidos, míopes
ou mesmo cegos.

Aliás

os cegos são felizes
porque não enxergam um palmo à frente
felizes porque
não veem as coisas
como elas são.

Quanto melhor sua visão
então
mais acurados seus olhos
então

podemos concluir
mais você sofrerá.

Isto é

se você sofre
é porque sente muito
consegue sentir,
ver, tocar
muito

muito.

Claro, eu sei
isso não é consolo.

domingo, 9 de junho de 2013

Mas não, jamais, se humilhe

Um comentário:
Ah! Resistamos à foto dela
nada de telefonar
mandar emails
bater à porta
ou enviar recados

vamos resistir, esqueçamos
apesar daquele olhar certeiro na fotografia
sejamos homens, sejamos
fortes

nada de importuná-la
nada de acordá-la na madrugada

nada de perder a voz ao telefone
e deixá-la sozinha, "alô? alô?"

nada de nos humilharmos
de nos sujeitarmos
rastejarmos

sejamos homens, sejamos
fortes

ok? nada disso.

Mas ela é linda, e, eu sei
não faz mal
ficar aqui apenas
observando a foto
dela, o olhar
certeiro na fotografia

e o sorriso, eu sei,
não faz mal

olhe um pouco

sinta um pouco

lembre um pouco

mas não,  jamais,
se humilhe.

Resista.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O mesmo cheiro de mar

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A brisa que vem, enquanto caminho rumo ao Fórum, é oceânica mas com um tom caseiro. Vem do mar, mas não evoca amplidões distantes, e sim praias calmas onde deitamos ao sol. Precisamente me lembra um dia, anos atrás, uma tarde na Praia do Flamengo. Prova da faculdade à noite mas eu não me importava: ao invés de ficar em casa estudando estava lá deitado na areia, fazendo da camisa toalha, braços abertos ao sol. Não me lembro que música ouvia nos fones. A calma daquela tarde sobrepuja a lembrança dos demais detalhes. E aquela tarde passou assim, tranquila, eu vagabundando ao sol, a praia vazia em um dia de semana qualquer. Sol e paz.

E a brisa. A caminho do Fórum vem o mesmo cheiro de mar, anos depois, quando, jovem, nada me perturbava, muito menos uma prova de faculdade à noite.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Qualquer uma dessas pequenas notícias banais

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Entardecia e, por mais não ter o que fazer, fiquei a observar as pessoas. Naquela esquina estava por exemplo um senhor grisalho, bem vestido mas não formal a ponto de ser um advogado. Falava ao celular: e foi o modo como falava que atraiu minha atenção. Olhos vermelhos, expressão tensa, parecendo ao mesmo tempo resignado e desesperado, sol e chuva, a encarnação das antíteses. E falava pouco. Apenas monossílabos ao aparelho, basicamente confirmando, endossando, aquilo que o interlocutor falava. Mas como lhe parecia sofrido! Engolia a explosão e se resignava em silêncio.

Que diabos ouvia? Estava longe para captar alguma coisa e sou ruim de leitura labial. Portanto resta apenas conjeturar, digamos, a notícia da demissão, da traição da esposa, da morte de alguém, o meteoro implacável rumo à Terra, uma nova epidemia mortal, uma declaração de guerra, qualquer uma dessas pequenas notícias banais da vida mundana que nós recebemos, rotineiramente, pelo celular num entardecer do centro da cidade.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Ela, após abrir o coração

2 comentários:
Ela disse tudo
de uma vez
como uma torrente.

E então se calou.

Já vi essas coisas antes.

Por exemplo
a combustão rápida
do fogo, até que
só as cinzas
fiquem.

As brasas estão apagadas.

Ela, após abrir o coração
ficou como apagada
também.

sábado, 1 de junho de 2013

Havia tempos em que qualquer telefonema dela

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Havia tempos em que qualquer telefonema dela
parecia um
cataclismo pessoal.

Hoje, tudo mais maduro
falamos apenas de
pensão alimentícia, contas outras
empregos e trabalho
e todas as coisas
chatas da vida.

Havia tempos em que qualquer telefonema dela
eu me tremia
todo.

Hoje, adultos,
é aquela velha
aporrinhação de sempre.

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