This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Azul kafkiano

Nenhum comentário:
Azul kafkiano

ouvi a expressão
e gostei

é perfeitamente adequada

é musical, é
excêntrico

e, além disso

(na verdade esse é o motivo
de ter gostado)

ela tem olhos
azuis

azuis kafkianos

porque, mesmo inocente,

me vi prisioneiro
sem direito à apelação.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

No mundo da lua

3 comentários:
Será coincidência que a melancolia volte quando escrevo sobre Alice? Aqui Mirna já é solar e supernova, enquanto Alice lua e eclipse. E é no delírio lunar que reencontro Alice, pálida como sempre foi, ao menos aqui nas fotos que sobraram.

Os efeitos da lua sobre os homens. Torno-me um licantropo raivoso. Dentes à mostra, pêlos eriçados, aguardando a bala de prata direto para o peito, e a bala de prata se chama Alice. "Lunático" vem de lua, ela que embaralha as mentes. Ritmos das marés e oceanos! A lua condiciona tudo, e é como a lua que Alice orbita em torno de mim. Mas só em espírito, só como espectro: fisicamente está distante. A lua mais perto da Terra que Alice de mim.

Estou dizendo essas coisas porque entraremos em lua cheia. E lembrei que, uma vez, Alice e eu brincávamos sobre nos encontrar na superfície lunar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Deixo tudo, como quem não quer nada

9 comentários:
Em "Pesadelo Refrigerado" Henry Miller diz que um dia gostaria de partir para o Tibete e de lá desaparecer, criando um mistério insondável para seus futuros biógrafos. Tenho tido a mesma vontade: não necessariamente o Tibete, mas um lugar igualmente distante, inacessível para a maioria. Talvez algo mais próximo: adentrarei Brasil a fundo, sertões e igarapés, pastos e mata. Em alguma cidade do interior, em um ponto perdido qualquer- de Minas a Rondônia, do Paraná ao Maranhão, estarei, escondido, em algum lugar não captável pelo GPS.

Será assim: quando não suportar mais a vida, quando estiver às raias do desespero. Deixo tudo, como quem não quer nada: "vou ali e já volto", direi para as pessoas, e partirei para o mais próximo aeroporto ou rodoviária. Minhas parcas economias talvez não me levem muito longe. Mas sempre se pode pedir carona e, oras, é para isso que existem os pés. Então partirei. Ir EM-BO-RA, e é um prazer sensual demorar nas sílabas.

Doravante viverei incógnito. Arranjarei a vida de uma forma totalmente diferente para mim até então: agricultor, boiadeiro, gerente de mercearia, garimpeiro. Rimbaud largou a poesia e foi ser traficante de armas na África. Eu, tendo menos a largar, já me vejo agora traficando ideias em algum lugar ao sul do Equador.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Mas eu, ciente de minhas fraquezas

4 comentários:
Eu mencionei que Alice era casada? É que isso não era obstáculo digno de nome. Nos dias em que era minha era como se não houvesse rival no universo. Tão natural que o mundo lá fora não importava, certidão de casamento de papel picado, aliança no dedo metal sem valor. Eu o Único Homem, ela a Eva em nosso Éden desajeitado. Aos pés, esmagada, a serpente do ciúme.

Digo que ser casada não era obstáculo porque Alice abandonaria tudo por mim. Ela, que tinha muito mais a perder, doava-se generosa e escolhia o arriscado. Mas eu, ciente de minhas fraquezas, tive medo. E aquele meu choro amargurado, no chão do quarto escuro, não era apenas por frustrar Alice. Era também por minha covardia, minha incapacidade, era por mim mesmo que eu também chorava.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Coisas impossíveis

5 comentários:
Coisas impossíveis
às vezes me pego a imaginá-las.

Experimente um dia:
é divertido.

Mas coisas impossíveis mesmo.

Neve no Saara
E peixe afogado

são coisa de amadores.

Um telefonema de Mirna
ou capitalismo humano

isso sim é inconcebível.

domingo, 4 de novembro de 2012

Confira nos mapas de meteorologia

Nenhum comentário:
Ao contrário do hemisfério norte, aqui o ano termina com o calor. É entre esferas de fogo e soda cáustica que o ano chega ao epílogo, o delírio laranja-escuro dos 40° na Avenida Presidente Antônio Carlos. Há um círculo vermelho grafado sobre a cidade do Rio de Janeiro: confira nos mapas de meteorologia.

Comentaram comigo sobre a sensação de forno, a solda a quinhentos celsius, metal em vapor no núcleo de estrelas. E a imagem, mais cá terrenal, do sedento atravessando as dunas.

Nenhuma brisa. As folhas estagnadas nos galhos. Nada se move: metáfora para nossas vidas.

De outubro a março é assim. Quanto ao inverno, esse farsante, durar uma semana já é muito.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...