This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A viagem da lua

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"Quando me sinto mal sinto uma dor aqui", e ele apontou pro lado esquerdo do flanco, o fígado, o pâncreas, sei lá, nada entendo de anatomia. "É assim mesmo", eu falei, "isso se chama SOMATIZAR", bem pronunciado, pois ele certamente nunca ouvira aquela palavra. "É quando o corpo é afetado pelo emocional", e ele fez careta e mais não disse.

Pro diabo dores no corpo. O mundo inteiro é uma grande chaga: dor por toda parte. Mas não disse isso a ele, ia botar culpa na bebida ou, pior ainda, na amargura pela derrota do meu time.

"Ei, conversou com ela?", perguntou, "e aí?". E aí que não deu em nada, tiro n’água, ele fez careta de novo, ao menos você tentou né, é, e mais não disse.

"Ei, cara, é a dor de novo, acho que deveria parar de beber", e apalpou o local, e fez careta de novo, e mais não disse. "Pare de beber", concordei, pare de beber e de respirar, e de comer também, acrescentei, e ele estranhou e expliquei, beber é uma necessidade humana, todas as culturas sempre beberam e beberam, às vezes é a única coisa que resta.

"Pô, cara, nada a ver, você tá viajando", fez careta mais nada dizendo.

Eu decerto estava viajando.

Olhei pra lua alva feito ovo já despontando. Viajávamos nós todos, a lua também, literalmente falando. Tudo se move, a via-láctea inclusive, não há nada estático. Viajamos.

Mas à pergunta, "para onde?", silêncio total.

Lembrei dela dizendo, "que vida difícil". Dei o último gole, fiz uma careta e mais não disse.

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