Precisei informá-lo mais uma vez: "-Não, o sujeito não está olhando pra você". Porque Rodolfo, quando encasquetava com algo, era capaz de passar a noite remoendo o assunto. Daí estava lá agora, em pé, tenso, olhando com o rabo de olho para o suposto adversário. O suor escorria pelas têmporas, a testa de veias dilatas brilhando como nunca. A cara de um verdadeiro assassino, e o suposto adversário, totalmente alheio a tudo, afinal o sujeito não estava mesmo olhando para Rodolfo.
Paranoia. O que fosse, não sou psiquiatra.
"-Rodolfo, relaxe. Dê seu copo pra eu encher". Álcool é relaxante, não é mesmo? Despejei mais cerveja para ele, que bebericava sem perder o suposto adversário de vista. E tudo corria na mesma, o barulho na rua defronte, a rua movimentada de bares onde estávamos, caixas de som pululando ao redor. Gente de todos os matizes. Pensando bem, não era mesmo um ambiente relaxante, com o álcool que fosse. Paranoicos como Rodolfo precisam de momentos serenos, como um chá das cinco com a vovó ou uma ária no Theatro Municipal, se é que alguém em sã consciência (repetindo, não sou psiquiatra) consegue imaginar Rodolfo num chá das cinco ou ouvindo ária.
O trabalho artesanal, entre os soldados orientais do passado, era incentivado. Para contrabalancear com toda a violência da guerra, um toque de sensibilidade em nervos graníticos. Arte acalma, álcool acalma, tudo acalma, e olhar as meninas passando também acalma bastante, e é o que Rodolfo deveria fazer ao invés de se preocupar com um suposto adversário lhe encarando.
Deixa ele tomar um chá comigo pra tu ver, se ele acalma ou não acalma ;)
ResponderExcluirEscreve mais ! Senti falta...
Sim sim, retomei os trabalhos, rs
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