Já passava das dezenove horas mas ainda havia transeuntes, o centro do Rio é assim de sol a sol. Não para nunca. Mas a Avenida Antônio Carlos, especificamente na altura do prédio do Fórum, estava às moscas. E muito escura: talvez um poste estivesse queimado, mas era um breu profundo, intensificado pelas copas das árvores. Enquanto descia pelo quarteirão, olhava o prédio de instalações modernas. Mesmo no escuro era imponente, menos do que seria se fosse um austero "Palácio da Justiça" barroco, mas ainda assim tinha sua majestade, o que é natural por se tratar da sede de um Poder.
Pois eu descia o quarteirão à sombra do Fórum, entre árvores pela calçada escura.
Muitas luzes lá dentro: os serventuários, como o centro do Rio, não param. Daí me pus a pensar em tantos processos que lá dentro repousavam, e então por acaso me vieram à cabeça histórias de cobiça e crime, de heranças e deserdações, de mágoas e rancores. Pensei nos assassinos citados diariamente, nos criminosos e pervertidos fichados, nas lágrimas e ranger de dentes, nos risos repugnantes dos oportunistas. Pensei em vaidade e em desespero, por ações perdidas por tão pouco, na insegurança dos jovens advogados e em clientes arruinados praguejando contra eles. Em condenações injustas, corrupção e má-fé. Pensei também em fortunas desfeitas e em imóveis perdidos, em ações de despejo e a angústia de não se ter aonde ir.
Pensei em tudo isso enquanto descia o quarteirão à sombra do Fórum. A calçada pareceu mais escura ainda, e as poucas árvores se avolumavam. Apertei o passo. Tive a impressão de passar por um local mal-assombrado, como um velho casarão, um antigo cemitério, apesar de toda a modernidade das instalações, engolidas, naquela hora da noite num centro do Rio que não para, pelo escuro que tomava a calçada.
ESSE PRA MIM FOI INCRÍVEL, UM TURBILHÃO DE PENSAMENTOS E QUESTIONAMENTOS FORAM DETALHADOS PARA O LEITOR DE UMA MANEIRA QUE POUCOS SABERIAM COLOCAR!
ResponderExcluirTexto instigante... Fiquei bem pensativo.
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