Leandro falava, no seu jeito típico, bravatas e causos, com voz já confusa da cerveja e cachaça que gostava de beber alternadas. Mas como dar atenção, se eu -também repleto de cerveja e cachaça- tinha pensamento apenas em Alice? Alice que há meses não ligava, não aparecia, Alice sem sinal de vida. E o coração apertava em saudade mas Leandro, falador contumaz, pouca solidariedade tinha para com o sentimento alheio.
E o bar já descendo as portas, e em breve o proprietário vindo nos perguntar se queremos a saideira, não sem antes trocar nossos copos de vidro por copos de plástico descartáveis. Leandro continuando suas histórias, matraca infatigável, e o pensamento somente lá em Alice. O celular arde no bolso- a vontade de discar os números, de acordá-la naquela madrugada quente, só para ouvir um "alô" e -se faltar coragem- desligar em seguida. A vontade da voz de Alice enquanto o proprietário pergunta se queremos a saideira e troca nossos copos de vidro por copos de plástico descartáveis.
Leandro, que diabos, não percebe que não dou a mínima para o que está falando? Mal te ouço- estou longe, na galáxia Alice (essa que os astrônomos ainda estão por inventar). Vá lá, Leandro, que diabos, estou aqui, continue falando: sou todo ouvidos.
E prosseguimos naquele outro bar, ainda aberto e com cerveja também gelada.
Fingir ouvir com o pensamento à distância não é arte para poucos. Ao contrário, é até trivial. Basta um pouquinho de treinamento, basta um amigo que não para de falar, basta um longo tempo sem falar com Alice.
Alice devia de estar no país das maravilhas... A sua espera.
ResponderExcluirAlice,uma deusa.Sendo ficcao ou nao, gostaria que no final tu ficastes com Alice.
ResponderExcluir