A noite em que Mirna disse "não sei, estou confusa", foi a mais longa de minha vida. Os físicos e astrônomos nos enganam: dizem que o dia tem vinte e quatro horas e que a noite ocupa metade disso. Esquecem de dizer que há noites que são duas, três, centenas de vezes isso; noites em que nos debatemos na cama impacientes, olhos abertos no escuro profundo. Noites em que voltamos ao relógio reiteradamente, ansiosos pela aurora. Quanto falta para o amanhecer?, nos perguntamos, quanto falta para Mirna?
Há noites assim, na história dos homens. Os jovens medievais, quando se sagravam cavaleiros, passavam a noite anterior à cerimônia em vigília rezando na capela. As horas noturnas antes da ordem de ataque, no campo de batalha. O atleta na véspera de uma competição importante. Até que se chegue ao exemplo da vigília por excelência, a agonia bíblica no jardim das oliveiras.
Noites em branco. Tão antigas quanto a Humanidade.
A noite em que Mirna disse "não tenho certeza, estou mal" durou exatamente quatrocentos e trinta e oito horas, mil e novecentos e treze minutos e setecentos e cinquenta e nove segundos. Talvez mais, pois o sol nunca demorou tanto a nascer como naquela ocasião. As noites polares duram um semestre. Mas mesmo que tarde, o dia vem sempre. Já de Mirna, eu nada sabia, não poderia saber se meu sol nasceria de novo.
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