Ela estava numa posição defensiva: sentada na areia, os braços envolvendo os joelhos. Fazia frio e a maresia trazia um cheiro gostoso de mar. Eu estava um pouco atrás, também sentado abraçando as pernas. Meio que não sabia o que dizer. Como romper a postura defensiva, como desviar a atenção dela: das ondas do mar para mim.
"Olha", ela disse súbito, sem se virar, "não tenho tido vontade de estar com ninguém". Para bom entendedor, meia-palavra basta. Não respondi: o único barulho era o das ondas. Há pouco tínhamos nos amassado, ainda no calçadão. Mas foi sentar na areia, foi sentir a brisa marítima e ouvir as ondas, que ela entrou num estado de torpor, algo catatônico. Pensando em sei lá o quê- mas não era em mim.
Fui trocado pelo mar.
Ou era a lembrança de outro sujeito, talvez areia molhada a fizesse lembrar dele.
"Eu entendo", respondi. "Também estou nessa fase", continuei, e era mentira, porque o que eu mais queria era retomar o amasso, língua com língua e mãos pelo corpo, como fizemos há pouco. Mas, reparem bem: não era mera luxúria. Tesão há sempre (tenho 19 anos recém-completos!), mas havia algo mais me cutucando. Apaixonado, não digo, encantado, enfeitiçado, maravilhado- isso eu digo. E o vento e a maresia também mexeram comigo, daí deu de repente vontade de chorar: entrei no catatonismo, que nem ela. Também a troquei pelo mar, mas olhem que coisa esquisita, nessa troca pelo mar ela também estava presente, tipo, não a queria mais e sim ao mar, mas o mar que eu queria eu queria por causa dela.
Coisa confusa. Só tenho 19 anos, não devia ser profundo assim. Deixemos que o mar seja profundo. Eu, não.
Olhei pra ela de novo. Esqueceu-me de vez: o mar, o mar, o mar, eu não era nada. Zero a zero. Merda.
Cansei daquilo e me levantei, batendo na bunda com as mãos para tirar a areia úmida que grudara. Soltei um "fui!" seco, solene, orgulhoso como um rei babilônico, e tomei o rumo do calçadão. Mãos no bolso, sem olhar pra trás, uma bruta ereção frustrada dentro da calça.
Ela, nem aí. Sentada na areia abraçando os joelhos, era atenção só para o mar.
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