Acordei com minha mãe me chamando. Foi um chamado límpido, claro, bem direto ao ouvido. Abri os olhos na semiescuridão do quarto e tentei me situar. De novo a voz dela me chamando- vinha de fora do quarto. Ainda sonolento me levantei e fui em direção à porta, quando ouvi, pela terceira vez, o chamado. Ninguém na sala; todos pareciam ainda estar dormindo. O chamado -o quarto- vinha, suave, da cozinha. Pois bem, me aproximei: a porta da cozinha estava entreaberta e, pela fresta, o que se via era uma profunda escuridão. Ainda assim era de lá que vinha a voz de minha mãe, já pela quinta vez.
Lembrei-me de um episódio que li sobre Marco Polo. Em suas andanças pela Ásia, atravessara um deserto famoso por iludir viajantes. Algum infeliz, geralmente dentre os retardatários da caravana, era chamado pelo nome. Intrigado com aquilo, seguia a misteriosa voz e acabava por se perder dos demais, para nunca mais ser encontrado. Aquela história veio à minha mente naquela fração de segundo, e, primeiro, me arrepiei para, em seguida, disparar rumo ao quarto da minha mãe. A pobre estava lá, dormindo tranquilamente, e não entendeu nada.
Bem, as aventuras de Marco Polo podem afetar meninos impressionáveis. E cérebros sonolentos pregam peças aos sentidos. Ou seria algum espírito dos confins do deserto de Gobi extraviado cá no Rio de Janeiro? Não sei, hoje não acredito nessas coisas. Mas, naquele dia, que ouvi, ouvi. Acredite- se quiser.
Querido, semana passada depois de finalmente ter conseguido dormir tranquilamente, escutei minha falecida mãe me chamando por 2x como se tivesse agonizando para morrer. A única coisa que pensei na hora foi rezar uma Ave Maria.
ResponderExcluirHá mais coisas entre o céu e a terra... rs
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