Não quero aqui comparar Alice e Mirna. Roubaram-me o coração de seus jeitos: e cada ladra tem seu próprio modus operandi. Mas é injusto falar aqui em roubo, quando eu voluntariamente cedi, como o condenado subindo alegre ao cadafalso. O que importa é que não quero compará-las.
Essas duas nunca se conheceram e, com certeza, jamais se conhecerão. Sem tomarem conhecimento uma da outra, contudo, estão ligadas sem saber, como faces da mesma moeda, damas do mesmo baralho. Uma é a de copas, outra de espadas. Uma dá a outra tira, uma fere a outra cura. E trocam de papeis, sempre. O que era veneno em uma se tornava remédio na outra. Sem se conhecerem, eram irmãs.
Para não ficar muito confuso: Alice é anterior e duradouro, Mirna novo e rápido. Uma a garoa constante que dura uma semana, a outra a tempestade de vinte minutos que arrasa a cidade. Estão indissociavelmente ligadas porque me afastei de Alice por causa de Mirna, mas finalmente encontrei Alice pelo desencontro com Mirna.
Sem saber, uma abriu a porta para a outra. Mas que importa isso hoje, se tornaram a fechá-la?
Não quero aqui comparar Alice e Mirna. A forca ou o pelotão de fuzilamento, a morte é a mesma.