Nos fundos da Igreja falo com ela, o único lugar, naquele centro de Rio de Janeiro, com um pouco de paz. Jamais colocaria a voz dela para disputar com buzinas e gritos, britadeiras e balbúrdia. E, naquela paz improvisada, ela fala em meu ouvido, e a distância acaba, e ela fala e o universo muda, doce mas não dócil, suave mas rascante. Ouço, falo, ela ouve e fala. "Te amo", digo antes de desligar, um silêncio de microssegundos e vem o "também te amo", e o universo, mudado, jamais volta a ser o que era.
Desligo o telefone. São os sapatos? Não, são nuvens que me carregam. "Eu também te amo", mas isso não resume toda a sabedoria hermética de todos os filósofos-santos-sábios-cientistas do mundo? Apenas essas palavras, eu, também, te, amo, e o segredo da vida se deu por realizado. Quero mais nada, preciso de mais nada.
Deslizo pela cidade. O trabalho continua, preciso ir ao fórum do Méier. Ok, continuemos a labuta. Mas o universo mudou, acho que me movo em outra dimensão, a sétima ou a oitava pós-Einstein, a dimensão para além de Alfa-Centauro, o lugar para onde o "também te amo" me enviou inexoravelmente.
Entro no restaurante, almoçarei antes do Méier. Olho o cardápio e tudo me parece mesquinho. Olho as mesas ao redor, olho a garçonete. Tudo me parece subitamente mesquinho. Olho novamente ao redor e me vejo, assomando em espírito, gritando alto para todos: "Os senhores precisam almoçar? Eu não. Isso é pequeno para mim. Já estou bem nutrido, 'também te amo' é alimento para a vida inteira!"