This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Noite em branco

A noite em que Mirna disse "não sei, estou confusa", foi a mais longa de minha vida. Os físicos e astrônomos nos enganam: dizem que o dia tem vinte e quatro horas e que a noite ocupa metade disso. Esquecem de dizer que há noites que são duas, três, centenas de vezes isso; noites em que nos debatemos na cama impacientes, olhos abertos no escuro profundo. Noites em que voltamos ao relógio reiteradamente, ansiosos pela aurora. Quanto falta para o amanhecer?, nos perguntamos, quanto falta para Mirna?

Há noites assim, na história dos homens. Os jovens medievais, quando se sagravam cavaleiros, passavam a noite anterior à cerimônia em vigília rezando na capela. As horas noturnas antes da ordem de ataque, no campo de batalha. O atleta na véspera de uma competição importante. Até que se chegue ao exemplo da vigília por excelência, a agonia bíblica no jardim das oliveiras.

Noites em branco. Tão antigas quanto a Humanidade.

A noite em que Mirna disse "não tenho certeza, estou mal" durou exatamente quatrocentos e trinta e oito horas, mil e novecentos e treze minutos e setecentos e cinquenta e nove segundos. Talvez mais, pois o sol nunca demorou tanto a nascer como naquela ocasião. As noites polares duram um semestre. Mas mesmo que tarde, o dia vem sempre. Já de Mirna, eu nada sabia, não poderia saber se meu sol nasceria de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...