This story is fiction, and any events or near-similar events in actual life which did transpire have not prejudiced the author toward any figures involved or uninvolved; in other words, the mind, the imagination, the creative facilities have been allowed to run freely, and that means invention, of which said is drawn and caused by living one year short of half a century with the human race . . . and is not narrowed down to any specific case, cases, newspaper stories, and was not written to harm, infer or do injustice to any of my fellow creatures involved in circumstances similar to the story to follow.


(Charles Bukowski, "The Murder Of Ramon Vasquez")

sábado, 19 de maio de 2012

Fantasmas forenses

Já passava das dezenove horas mas ainda havia transeuntes, o centro do Rio é assim de sol a sol. Não para nunca. Mas a Avenida Antônio Carlos, especificamente na altura do prédio do Fórum, estava às moscas. E muito escura: talvez um poste estivesse queimado, mas era um breu profundo, intensificado pelas copas das árvores. Enquanto descia pelo quarteirão, olhava o prédio de instalações modernas. Mesmo no escuro era imponente, menos do que seria se fosse um austero "Palácio da Justiça" barroco, mas ainda assim tinha sua majestade, o que é natural por se tratar da sede de um Poder.

Pois eu descia o quarteirão à sombra do Fórum, entre árvores pela calçada escura.

Muitas luzes lá dentro: os serventuários, como o centro do Rio, não param. Daí me pus a pensar em tantos processos que lá dentro repousavam, e então por acaso me vieram à cabeça histórias de cobiça e crime, de heranças e deserdações, de mágoas e rancores. Pensei nos assassinos citados diariamente, nos criminosos e pervertidos fichados, nas lágrimas e ranger de dentes, nos risos repugnantes dos oportunistas. Pensei em vaidade e em desespero, por ações perdidas por tão pouco, na insegurança dos jovens advogados e em clientes arruinados praguejando contra eles. Em condenações injustas, corrupção e má-fé. Pensei também em fortunas desfeitas e em imóveis perdidos, em ações de despejo e a angústia de não se ter aonde ir.

Pensei em tudo isso enquanto descia o quarteirão à sombra do Fórum. A calçada pareceu mais escura ainda, e as poucas árvores se avolumavam. Apertei o passo. Tive a impressão de passar por um local mal-assombrado, como um velho casarão, um antigo cemitério, apesar de toda a modernidade das instalações, engolidas, naquela hora da noite num centro do Rio que não para, pelo escuro que tomava a calçada.

2 comentários:

  1. ESSE PRA MIM FOI INCRÍVEL, UM TURBILHÃO DE PENSAMENTOS E QUESTIONAMENTOS FORAM DETALHADOS PARA O LEITOR DE UMA MANEIRA QUE POUCOS SABERIAM COLOCAR!

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  2. Texto instigante... Fiquei bem pensativo.

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